BAÚ

Ontem fiz uma coisa que não se deve fazer.
Ou pelo menos tem que estar muito "centrada" para fazer.
Ontem revirei meu baú do passado.
Fotos, cartas, cartões, objetos.
Lembranças.
Maravilhosas, ruins, de todos os tipos.
Ás vezes pode ser muito difícil olhar para trás e sentir o que já passou.
Eu mesma tenho muitos fantasmas.


Muita coisa vem á tona.
Eu tive medo de olhar para aquele passado que em parte foi doloroso.
Eu devia ter queimado tudo, para que a fumaça levasse embora qualquer vestígio de amor e sofrimento.
Mas prefiro deixar assim. A história não é só minha, não posso ser egoísta, vivi cada segundo daquilo tudo e estou aqui, viva.
Nada é por acaso. Tudo fica nas mãos de Deus e eu creio muito nisso.
Aquela é a minha bagagem de vida, com todas aquelas imagens de sorrisos e cor.

Analisando as fotos, as cartas e cartões, de amigos, parentes, amores, pessoas que um dia fizeram parte do meu cotidiano, sinto que nem tudo foi em vão.
Boas lembranças de brincadeiras, de amizade, de carinho, de abraços, de natais, de zueira.
E percebi que tudo aquilo que vi, desde minhas fotos de bebê até certo ponto da minha vida, eu sempre fui muito feliz, muito querida e muito amada.
Sempre tive uma facilidade incrível de cativar e compreender as pessoas, mesmo sem a sabedoria da maturidade, muita gente me procurava para conversar e pedir conselhos, por minha simpatia e modo calmo e doce de conversar sobre tudo, sem tabus.


Mas de uns anos para cá (mais precisamente 07 anos), minha vida tem se tornado amarga.
E se eu não estivesse bem centrada eu jamais tocaria naquele baú.
Já chorei tanto, em crises depressivas com aquelas fotos e cartas na mão, pedindo para morrer, pedindo para acabar todo aquele sofrimento.
Traição, abandono, dor, medo, revolta, ressentimento, mágoa, ódio, saudade, inveja, auto depreciação, auto piedade ... todo tipo de sentimento imaginável passou pela minha vida nesses últimos anos. Foi duro mesmo.
Escrevi cartas intermináveis (que nunca tive coragem de mandar), narrando toda a minha dor e loucura.
Detalhei cada descompasso do meu coração.


Naquele momento, essa era a minha única fuga para não enlouquecer literalmente.
Escrever. Sempre amei escrever. Sempre traduzi melhor meus sentimentos com letras do que com palavras (e olha que eu falo pra caramba!!!!).
Aliviava minha alma sôfrega com meus escritos e enfiei tudo no tal baú.
Por muito tempo ele ficou esquecido, ou melhor, escondido num canto do armário, intocável, com meus segredos mais secretos e a medida exata das dores que eu nunca fui capaz de dizer a ninguém.


Porque eu acho que se a dor é minha e não tem como outro resolver, pra que ficar falando e se lamentando????
Banquei as minhas dores como pude.
E ontem, no meio de tudo aquilo, achei uma coisa que me chocou.
Eu nem me lembrava que tinha escrito aquilo: uma carta endereçada a amante do meu ex-marido.
Acho que nem eu mesma me lembrava de como sofri e como descrevi tudo aquilo naquela carta que não foi enviada.
Eu odeio o "e se" ... putz, é a pior coisa imaginar o tal do "e se eu tivesse feito tal coisa?", "e se eu tivesse ido embora?".
E ontem voltou muito em mim isso de "e se" eu tivesse feito tudo diferente...


Não sei o que teria acontecido.
A única coisa que tenho certeza, depois dessa experiência antes aterrorizante, é que já não sinto aquelas dores.
Eu consigo me lembrar de como eram aquelas punhaladas no peito, mas não senti isso dessa vez. Claro que sempre fica algo na gente, e o homem que escolhi para ser meu PARA SEMPRE e ser pai do meu filho nunca irá se apagar da minha vida, mas não dói mais tanto assim.
Descobri naquele baú, que a maior parte da minha vida, eu fui muito feliz sim, e agora tive a certeza de que o futuro será melhor ainda.
A vida sempre continua, e no final, tudo acaba bem ... (será?????????)
Tomara!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!